segunda-feira, 26 de abril de 2010

O ser humano acostuma a viver no próprio excremento e não faz nada pra mudar

É interessante como o ser humano se acostuma a viver no próprio excremento e, percebendo isso, não faz absolutamente nada para mudar.

Pense um pouco. É segredo que quem vive em São Paulo respira um pouco de veneno todos os dias? Tenho fé que não. Também não estou sendo dramático não. Veja só algumas reportagens que saíram nesses últimos dias:

Piora a qualidade do ar na Grande SP - http://www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=13,56449

Qualidade do ar em São Paulo piora nos últimos 90 dias - http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4397663-EI8139,00-Qualidade+do+ar+em+Sao+Paulo+piora+nos+ultimos+dias.html

Aí os grandes sábios (que geralmente é a maioria da população) acham que isso é uma espécie de lenda urbana, afinal ta ruim mas não tanto assim. Outros até acreditam e se fazem de preocupados, mas se precisar deixar de pegar seu carro pra ir até a algum lugar pra passear (a famosa “dar uma voltinha”), deixar de usar umas 100 sacolinhas plásticas pra carregar as compras de supermercado, enfim, se precisar fazer qualquer mínimo esforço pra ajudar, logo abandonam o espírito “eco-certo” e seguem o fluxo. Ainda se justificam “se eu fizer ou não fizer dará mesmo, o que adianta?”.

Então alguns iluminados ficam procurando uma maneira de fazer isso, nem que seja a força, pra ganhar dinheiro, seja lá o que pensarem. Disso surgem algumas iniciativas como, por exemplo, a inspeção veicular. Mas sem vergonha quando é sem vergonha de verdade, invocam o “dane-se” a algo que é bom pra todos. Xingam o município, reclamam, perguntam se não tem mais nada pra fazer e por ai vai (isso porque o processo é rápido e bem organizado, imagine se não fosse). Mas ir lá pra ver se seu carro ta ajudando a matar os outros, pra que né? E se o carro for reprovado então? É o ícone do absurdo uma coisa dessas. Vamos ser honestos, casos como o da inspeção veicular deveriam ser requeridos pela sociedade e, quando existissem, deveriam ser procurados por livre vontade, não por obrigação. Isso se chama lógica, mas fazemos questão de praticar o que se chama imbecilidade pelo tal do “conforto do momento”. Junte isso à impunidade e tem-se a reportagem abaixo:

Só 0,1% dos infratores foram multados por não fazer a inspeção - http://www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=13,56447

Não contente, ainda compramos mais e mais carros ou incentivamos isso a toda força. Afinal o Brasil precisa crescer, o povo precisa ganhar dinheiro certo? Claro que sim, porque depois vão precisar de todo esse dinheiro pra consertar a “cagada” que estão fazendo. Não basta o pai de família ter um carro. Tem que haver um pro filho, pra filha, pra mãe, pro empregado, pro filho do empregado e por ai vai. Até que um dia nos veremos todos num hospital, lotado de gente, sem condições de atendimento (mesmo pagando os custos de um plano particular), não conseguindo respirar, vendo filhos morrendo por inúmeros tipos de doenças e por aí vai. Será que aí vamos ao menos se lembrar que somos os responsáveis ou vamos tentar matar o presidente, prefeito ou secretário da saúde? A segunda opção, claro. Afinal alguém acha que a culpa é nossa? Que loucura e blasfêmia dizerem isso!!! Os outros erram, não a gente!

Então vemos as tragédias! Casas levadas pela chuva, famílias inteiras mortas... E? E daí? Isso não quer dizer nada!

Ficou chocado com essa frase a me achou sem sentimento não é? Mas isso que eu disse não é o que eu acho e sim o que a maioria do povo que morreu achava ou parece que achava. Pense bem, porque você iria invadir um local (veja bem, INVADIR) que fica num morro ou na encosta de um rio, onde superficialmente fica evidente o risco do lugar (o chorume do lixo ou o próprio rio em si frente há anos e anos de anúncios de tragédias por alagamento), monta sua casa (gastando o dinheiro que dizem não ter) pra quando há uma chuva ver tudo indo pelo buraco. Então se chama a reportagem pra mostrar a desgraça e condenar o governo pela falta de estrutura e condições dignas pra um cidadão “honesto”! Um cidadão que paga seus impostos (qual seria o imposto se ele é irregular logo não tem IPTU e etc?).

“Mas falta condição pra essa gente, emprego, dignidade e bla bla bla”. Eu não sou ninguém pra falar o que é certo ou errado então eu penso no que é lógico a meu ver. Veja, se estou num lugar e preciso viver, eu vou procurar um lugar pra conseguir o pão (trabalhar) e morar, certo? Supondo que eu esteja nesse local há algum tempo e não consiga achar nada. Não tenho mais como viver ali, o que faço então? Segue as alternativas que penso serem as mais diretas:

a) Tento um novo local para novas tentativas.
b) Insisto nesse lugar, afinal minha família ta aqui. Então procuro um lugar vazio pra montar um barraquinho provisório até eu ver o que vai dar, peço uma ajudinha pro pessoal e vou tentando tocar.

O que geralmente é escolhido? Por quê? “Sou casado e tenho filhos”, “Minha mãe depende de mim” e por aí vai... Mas resolver o problema que é bom, nada. E ai se aparecer um fiscal pra desapropriar e falar que você está errado ou você é um invasor.

Então, como diz o ditado, “se não vai pelo amor, vai pela dor”. Chove, pega fogo ou acontece algo e aí morre a família, os pais, a pessoa... “Que tragédia! Como isso pode acontecer? Será que não há um Deus que vê isso? Esse governo...”

Então, quando falamos algumas coisas que escrevi cima, surgem outras correntes com “... mas é que essas pessoas não tiveram instrução...”. Tenho um exemplo particular, mas meu tataravô não tinha o primário e saiu do Rio de Janeiro a pé pra tentar a vida no interior porque viu que sua família iria morrer de fome se ficasse lá. Isso não tem haver com instrução, tem haver com senso de responsabilidade, de consciência.

Após a tragédia do Rio, ouvi um cidadão dizer à repórter que só síria da casa dele com sua mulher e uma criança (que estava no lixão, em ruínas e em área invadida)para o abrigo que a prefeitura já tinha providenciado se o governo pagasse a ele R$ 250,00. Gente! Que é isso! O cara invadiu o lugar, estava morando em cima do lixo, a casa esta caindo literalmente e ele só sai se ganhar dinheiro?! Olha, parece piada de primeiro de abril.

Voltando, porque fazemos isso? Seja no lixão ou apenas respirando o ar de São Paulo, sabemos que estamos arriscando a nossa saúde, a saúde de nossa família, a saúde de todos e ainda sim não mexemos nenhum músculo pra mudar isso.Porque somos tão coniventes? Será que nossa preguiça, nosso desleixo, nossa falta de compromisso é tão superior assim? Porque fazemos questão de cada vez mais viver COM o excremento e NO excremento? Essa pergunta que não me sai da cabeça, pois me incluo totalmente no meio do que acabam não se mexendo pra ajudar. Quando criaremos vergonha? Alias, será que isso acontecerá um dia? Eu particularmente quero acreditar e pensar nisso muito pra ver se saiu dessa posição. Eu preciso e vou!!!